19 novembro 2006

SOB O SIGNO DO CAOS


Por MARIA LUCIA VICTOR BARBOSA


Se o primeiro mandato do PT foi medíocre em crescimento, marcado por uma profusão de escândalos de corrupção, escudado em propaganda enganosa que deturpou dados e iludiu eleitores, o segundo já começa sob o signo do caos.

A situação caótica é mostrada de forma mais evidente através do apagão aéreo. Esse transtorno que inferniza a vida de milhões de brasileiros que utilizam vôos domésticos e internacionais, teve origem na queda do Boeing da Gol, tragédia na qual 154 pessoas morreram.

Sobre o infausto acontecimento, até agora não esclarecido, a primeira versão ventilada pelo ministro da Defesa, Waldir Pires, era a de que a culpa do acidente pertencia aos pilotos norte-americanos do jato Legacy que bateu no Boeing.

Os pilotos continuam com seus passaportes presos e impossibilitados de saírem do Brasil, e esse tratamento dado a criminosos deve fazer os compatriotas nacionalistas se rejubilam. Eles acreditam piamente que os culpados foram aqueles americanos maus e terroristas, que por um ataque de ruindade resolveram aniquilar a vida de 154 brasileiros inocentes. Um julgamento que, na verdade, se repete em tudo de ruim que nos acontece, porque é sempre mais fácil atribuir culpas do que nos responsabilizarmos por nossos próprios erros e mazelas.

Acrescente-se o antiamericanismo que foi exacerbado no governo petista, fiel cultor de Fidel Castro e de seu herdeiro Hugo Chávez, e não fica difícil concluir que o julgamento antecipado do ministro da Defesa fez sucesso. Estimulados por tais coisas, os advogados das vítimas do Boeing já entraram com pedido de indenização nos Estados Unidos. Entretanto, o acidente ainda está longe de uma real elucidação, conforme aponta um relatório preliminar:

“O Legacy falou uma vez com o controle de vôo em Brasília às 15h51 e, apesar de sua identificação ter sumido do radar às 16h02, só começou a ser contado por rádio pela torre às 16h26, quase meia hora antes do acidente. Não se sabe porque a torre demorou tanto para tentar contato. Das 28 tentativas, só uma teve sucesso parcial. O Legacy voava a 37 mil pés, altitude igual a do Boeing. Devia ter passado a 36 mil pés em Brasília e depois para 38 mil pés. O relatório não esclarece porque Brasília não avisou o controle em Manaus para que alertasse o Boeing” (Folha de S. Paulo, 17/11/06).

Mais estranhezas, contudo, permeiam o apagão aéreo indicando que o caos pode ser mais profundo. Vejamos resumidamente quais são elas:

1ª) O ministro da Defesa solapou a autoridade da Aeronáutica ao tratar com os operadores de vôo, a maioria militar, sem a presença do comandante da Aeronáutica e de oficiais.

2ª) O ministro pareceu querer sindicalizar a questão, sendo que as FFAA não podem ser sindicalizadas, pois isso desvirtuaria suas funções constitucionais.

3ª) O ministro da Defesa parece não querer entender que “operação-padrão” significa greve, ou seja, grave insubordinação relacionada á hierarquia militar. Imagine-se, só para ilustrar, que numa hipotética guerra o general desse a ordem para as tropas avançarem e os soldados dissessem: “não vamos, estamos em greve”.

4ª) As FFAA, cujas condições salariais e materiais são cada vez mais precárias, têm com o apagão aéreo sua ruptura acelerada e sua ideologização acentuada. Será fácil, daqui a pouco, os militares brasileiros baterem continência para Hugo Chávez na zona militarizada que este vai criar na América Latina com o apoio dos países amigos.

Enquanto isso o presidente reeleito se diverte com a angústia dos ministros que querem ficar e com a ambição dos que querem entrar. Não lhe importa se a demora de sua decisão possa ocasionar o caos administrativo num país que já não prima por competência em gestão pública. Tão pouco importa ao reeleito se o MST acelera com ímpeto as invasões de terras, contidas durante a campanha para preservá-lo. O caos no campo, com conseqüências nefastas para o agronegócio já abalado pela incompetência governamental, não conta. E num governo que se recusa a cortar gastos e, portanto, a crescer, restará ao país o caos, sobretudo, para a classe média já tão penalizada pelo desemprego e pelos altos impostos.

O governo Luiz Inácio em seu segundo mandato parece se esmerar em nivelar por baixo. Não existem oposições para conter essa tendência. Não temos partidos políticos na expressão correta do termo. Não possuímos instituições que funcionem como anteparo entre o povo e o arbítrio governamental. O último bastião de resistência, a imprensa, está correndo sério risco no tocante à liberdade de expressão. Quanto ao povo, mais de 58 milhões de eleitores recompensaram a mediocridade.

Mas nada acontece de forma aleatória. A quem interessa o caos? A resposta fica com os leitores desse breve texto, se puderem ou quiserem dá-la.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga

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