06 novembro 2006

O apagão aéreo que assassinou 154 pessoas

Por Reinaldo Azevedo

Acabou a farsa. Sabem aquela saída: "culpem os americanos?" Não funcionou. Alguns cretinos acusaram um verdadeiro complô na Rede Globo, que teria subestimado o acidente com o Boeing da Gol para dar destaque às fotos do dossiê. Agora, o que há para dizer? A sorte de Lula é que a eleição não é daqui a duas semanas... O "apagão da energia elétrica do governo FHC" — escrevo assim, entre aspas, que é como o PT chamava e chama a crise de energia de 2001 — não matou ninguém. O "apagão da aviação do governo Lula" fez 154 vítimas fatais. Os familiares já têm a quem acionar: a União. Reportagem de Eliane Cantanhêde, na Folha de hoje, informa: a caixa-preta do Legacy revela que a torre de São José dos Campos errou e autorizou os pilotos Joe Lopore e Jean Paladino a voar a 37 mil pés, na contramão do avião da Gol. O resto já se sabe.

Quando o acidente aconteceu, no dia 29 de setembro, a operação-padrão dos controladores de vôo ainda não estava em curso, é verdade. Mas já estavam em vigência as péssimas condições em que eles trabalham "nestepaiz", o que é atestado por organismos internacionais. Quando isso foi noticiado no The New York Times, o governo reagiu com sua honra verde-amarela ferida. Os passaportes dos pilotos foram apreendidos. Eles só fizeram o que lhes mandaram fazer, contrariando o plano de vôo que tinham.

A reportagem de Cantanhêde lista, sim, outros problemas, incluindo a falha no transponder. Mas leiam o texto. Nada explica que não se tenha alertado o avião da Gol para o que era, quando menos, um alto risco de colisão. Acidentes acontecem? Acontecem. Em qualquer parte do mundo. O que cobre o nosso de ridículo é a patetice das autoridades e a versão de que "os gringos" foram acusados sem haver qualquer prova material. Waldir Pires, ministro da Defesa, com uma longa folha de desserviços prestados ao Ministério da Previdência e ao governo da Bahia, afirmou anteontem que o problema dos controladores "é mais de fundo emocional". Não é. Eles decidiram operar segundo as normas internacionais de segurança. Deu no caos que estamos vendo.

Não sei como anda o transporte marítimo. O terrestre, com exceção das estradas paulistas até onde sei, é o caos na forma de buracos. O dos céus vive uma situação de calamidade. Não obstante, o governo "como nunca houve nestepaiz", no horário eleitoral gratuito, satanizou as privatizações, aquelas mesmas que fazem das estradas de São Paulo as mais seguras do país. Com pedágio, é verdade. Quem as quer como são sem pagar acredita em almoço grátis; está querendo um Bolsa Automóvel.

Mas ninguém gosta de privatização por aqui, como se viu pelo resultado das urnas. A gente prefere mesmo é o Estado assassino. Espero que a indenização às famílias seja paga em "conys". "Cony" é a moeda que uso para reparação àqueles que são vítimas do Estado. Se quem perdeu um cargo de jornalista merece 1,5 milhão de conys mais 20 mil conys por mês, quanto deve receber a família de quem perdeu a vida porque a infra-estrutura do Brasil é um lixo?

Que este seja o país do Aerolula é só a ironia que definitivamente nos cobre de ridículo. Alguns leitores observam que escrevo, às vezes, textos furiosos. Pois é. Eu acho mesmo que nos falta um pouco de fúria. Aquela que todo indivíduo deve ter contra o Estado e o governo se não quer ser um escravo moral.

Um comentário:

Anônimo disse...

Só uma besta quadrada para escrever um artigo desse