05 novembro 2006

O espelho e a indigência mental

CLÓVIS ROSSI
Três companheiros, dos melhores que há na praça, queixaram-se em suas colunas do patrulhamento petista à mídia. São Dora Kramer ("Estadão"), Eliane Cantanhêde, minha vizinha, e Merval Pereira ("O Globo"). Calma, gente, esse jogo é velho e é também emblemático do nível de indigência com que se trava boa parte do debate público. Lembram-se do período militar? Qualquer crítico era logo rotulado de "comunista". Pronto, bastava para fugir à discussão sobre, por exemplo, se havia ou não violação aos direitos humanos (e havia). Fugia-se pelo caminho de atribuir o fato a uma propaganda do então ubíquo "comunismo internacional" (hoje, ubíqua é a "elite", mas a indigência é a mesma). Na democracia, quem criticava o governo tucano era "petista", quem critica o lulo-petismo é "tucano". Nada mais fácil para esconder-se dos fatos do que embaçar o espelho que os mostra. O diabo é que os fatos continuam a existir, do que dá prova a freqüência com que o próprio presidente se diz vítima de seus amigos mais próximos. No lulo-petismo, a coisa piorou, compreensivelmente. Para quem passou a vida toda patrulhando o mundo, como se fossem os únicos puros e justos, é impossível aceitar ser patrulhado -e, pior, patrulhado pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pela Justiça. Como é que esse pessoal (e a mídia) ousa criticar "são" Lula e seus apóstolos? Aceitar a crítica é aceitar que foram enganados, algo impensável para portadores de indigência mental. É muito mais fácil culpar o espelho. Ou dizer que, no governo anterior, o espelho não mostrava os fatos. Falso de novo. Como os lulo-petistas (e todos os outros) ficaram sabendo da compra de votos para a reeleição? Investigação própria? Nada. Por esta Folha. Ponto. O resto é indigência mental. Não perco um segundo de sono com ela.

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