Míriam Leitão
O candidato do PSDB-PFL, Geraldo Alckmin, chega às últimas horas da campanha num quadro extremamente negativo. Mesmo se as urnas não forem tão favoráveis ao seu adversário como as pesquisas de intenção de voto — a exemplo do primeiro turno —, as maiores chances são de que ele perca a eleição. Há erros e falhas na campanha que explicam, em parte, essa situação.
Quando o PSDB escolheu seu candidato à Presidência da República, escrevi uma coluna com o título “PSDB improvisa”.
Não era uma crítica ao candidato, mas o relato da sensação que me deixou uma série de conversas com lideranças do partido. Para enfrentar um adversário forte, no cargo, numa eleição difícil, eles não tinham estratégia, não sabiam nem explicar o motivo da escolha: fora apenas o resultado da insistência de Alckmin, disseram.
Essa é uma forma de começar a perder uma eleição, e não de ganhá-la. A primeira declaração do candidato foi que ele não seria “antinada, nem antininguém”. Começou errando. Toda reeleição é plebiscitária e, por isso, o candidato da oposição tem que encarar o “anti”. E demarcar a diferença.
A disputa entre os pré-candidatos Alckmin e Serra foi intramuros. O partido perdeu uma oportunidade de modernizar suas práticas, com primárias, em vez de opacos acertos feitos na cúpula, nos quais as virtudes do candidato foram menos determinantes que os interesses de uma coalizão de veto que unia ressentimentos de 2002 a ambições de 2010.
Para curar feridas da divisão partidária e armar o time para a disputa, Alckmin devia ter atraído, para a formulação de sua estratégia e de seu programa, o melhor da inteligência e da força do partido. Ele fez o oposto, isolou-se com seu próprio grupo. Ou foi isolado.
Durante meses, a campanha navegou à deriva, sem idéia força, sem propostas, sem programa. O programa foi divulgado, um mês antes do primeiro turno, quase como um atendimento às cobranças da imprensa, mas não como um conjunto de idéias inovadoras e necessárias para enfrentar os muitos problemas que o Brasil tem. Foi uma etapa burocrática, mais que a escolha das idéias e dos projetos em nome dos quais ele se oferecia ao país como alternativa. Até hoje, é difícil saber exatamente que mudanças a oposição implantaria em caso de vitória.
Lula comandava o governo e suas políticas eram seus programas. É da oposição que se cobra um projeto diferenciado.
Alckmin errou ao demorar muito a bater na questão da ética; o óbvio ponto fraco de Lula. Até agora, ainda há dúvidas, entre seus assessores, se esse tema devia ter sido um mote da campanha, já que, quando o assunto entrou, o desempenho do candidato não melhorou. Esse é o tipo de tema que tem que ser central, independentemente do resultado eleitoral. O país vive uma emergência, e condenar a má prática é forma de reforçar as bases da democracia brasileira.
Foi erro ir para a defensiva quando o PT tirou o tema da privatização do fundo do baú. É erro recorrente dos tucanos. Em 2002, José Serra não defendeu os avanços do governo Fernando Henrique, limitando-se às conquistas da sua gestão na saúde; na atual campanha, Geraldo Alckmin parecia constrangido quando cobrado sobre os resultados dos “oito anos”.
Naqueles oito anos, o governo errou e acertou como em qualquer governo, mas há um saldo positivo impressionante.
O governo estabilizou a economia, vencendo uma guerra que fora perdida nos 30 anos anteriores. A privatização pôs fim ao seguinte: as estatais eram cabides para indicados políticos e usavam os cargos para financiar quem os indicou; as siderúrgicas quebravam a cada cinco anos, exigindo dinheiro do contribuinte; as distribuidoras de energia eram usadas pelos governadores como caixa de campanha; os bancos estaduais viviam quebrados e eram usados também para as mais tenebrosas transações; a Vale era uma boa empresa impedida de vôos muito maiores, como se viu; a Embraer era dependente crônica do Tesouro; a Telebrás não conseguia nem mesmo suprir o mercado do mais básico dos produtos, não estava preparada para aquele início da revolução das comunicações.
A privatização permitiu um choque de competitividade que se espalhou pelo setor privado e preparou o país para saltos seguintes no comércio internacional.
As empresas privatizadas não mandam mais seus prejuízos para o Tesouro e pagam mais impostos que os possíveis dividendos que pagariam se continuassem públicas.
Na educação, o legado de Fernando Henrique — leiase Paulo Renato — é inquestionável.
Houve constância nas políticas, adoção do conceito de avaliação e universalização do ensino fundamental.
Os saltos seguintes não foram dados porque o governo Lula teve 3 ministros e prioridades mutantes.
Querer brigar com o governo Lula no crescimento — no que ambos os governos foram medíocres — ou no emprego — em que Lula tem sido melhor, apesar de a taxa de desemprego continuar em dois dígitos, foi perda de tempo.
Outro erro da campanha tucana é apenas um detalhe, mas significativo: o locutor escolhido para o programa eleitoral é um homem branco. Diante dessa mesmice, ficou ainda mais colorida e bonita a opção do PT por um grupo de apresentadores que representam a vigorosa diversidade do Brasil
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