30 outubro 2006

Ao vencedor as batatas,quentes e podres

Lula faz discurso mentiroso da “vitória do Brasil”, para neutralizar oposição interna, e quer compor com os EUA
Por Jorge Serrão
Ao vencedor, as batatas! Quentes e podres! Desculpe pelo plágio, imortal Machado de Assis. Mas foi uma derrota mortal para a soberania, para a autodeterminação e para a paz social do Brasil este previsível triunfo reeleitoral do Presidente da República. Não adianta Lula da Silva discursar sobre seu feito, trajando a demagógica camiseta “A Vitória é do Brasil”, nas cores nacionais. Muito menos adianta Lula declamar, demagogicamente, que tal vitória “é fruto, eminentemente, da sabedoria do povo brasileiro”. Nada disso. A vitória dele é a expressão e continuidade do Poder Real da nobreza econômica anglo-americana, reunida em um grupo chamado Centro Tricontinental, que manda no mundo e explora as riquezas do Brasil, mantendo nosso País artificialmente na miséria.

Lula sabe que a previsão do tempo para seu próximo governo é de desgastes e confrontos políticos, com risco de radicalizações e até pancadas ocasionais. Temperatura em elevação, com risco de ebulição institucional. Exatamente para afastar qualquer risco de impeachment (ou golpe, como José Dirceu, Luiz Dulci e Tarso Genro preferem lamuriar), Lula fez seu primeiro discurso público de reeleito mandando um recado direto que atingiu dois alvos bem definidos. Primeiro, seus aparentes inimigos internos. Segundo, seus aliados mais radicais, nos sindicados, no Movimento dos Sem Terra e nos outros chamados “movimentos sociais”:

“A eleição acabou. Não tem mais adversário. Agora, são todos se juntando para o Brasil crescer e se fortalecer no mundo. Contra estes argumentos, não temos adversários. Quero conversar com todos os partidos, sem exceção. Agora, o problema do Brasil é de todos nós, para que o País não perca mais nenhuma oportunidade. Inclusive, aos companheiros sindicalistas, peço que reivindiquem tudo que puderem. Mas a gente só vai dar o que a responsabilidade permitir”. Depois de ser aplaudido pela claque petista, sendo cutucado por Luiz Dulci (que estava atrás do presidente e soltou uma gargalhada irônica), Lula emendou a maior inverdade objetiva dos últimos tempos: “O Brasil é de todos. A vitória não é do Lula, do PT, do PC do B, do PRB. A vitória é eminentemente da sabedoria do povo brasileiro”.

Lula entende que não precisa temer a oposição que lhe será promovida pela classe política, que foi sócia do impune mensalão no primeiro mandato. Lula sabe muito bem que tal “oposição” só existe na ficção política. È fácil compor com ela, em função de interesses de negócio. O acordo empresário-eleitoral, costurado em maio com FHC, dará bons frutos para todos os lados envolvidos nas moedas de troca. Agora, o grande temor de Lula é alguma ação contra ele, articulada fora do Brasil. O medo real de Lula são os adversários norte-americanos de seus atuais sustentadores do Centro Tricontinental. Lula sabe que se os EUA jogarem pesado, sua situação complica. Para neutralizar tal ação da Águia de Washington, Lula já planeja uma viagem, o mais rápido possível, para um encontro com o presidente George Bush. Quer oferecer aos norte-americanos oportunidades de negócio, em troca de sustentação política. Se vai conseguir... Isto são outros bilhões de dólares. Os EUA precisam de um governo, no Brasil, que apóie seu Plano Colômbia. Bush e Condollezza Rice sabem que Lula não é o perfil de governo que lhe interessa.

Lula também sabe que, apesar da sua vitória e da debilidade da oposição, a sucessão de 2010 já está aberta previamente. No PT, não existe um nome com o brilho da estrela para suceder Lula. Ciro Gomes tentará se credenciar, esperando um retorno pelo seu comportamento cordato e fiel com o governo petista. Quem caiu na disputa é Aécio Neves. O governador reeleito de Minas deverá abandonar o ninho tucano. O neto de Tancredo viverá o dilema de se aninhar no sempre governista PMDB, o que é uma operação de alto risco político, ou fazer uma composição com o presidente Lula para fundar o partido que seria alternativo ao atual Partido dos Trabalhadores, que também está com os dias contados.

A partir de agora, se quiser evitar instabilidades internas, Lula será obrigado a se livrar do PT, o mais depressa possível. O seu partido carrega máculas de denúncias objetivas de corrupção, que terão de ser julgadas ao longo do segundo mandato presidencial. Uma prova disto é a pressa da cúpula do PT, liderada por Tarso Genro, em priorizar a tal “reforma política”. Dirigentes petistas sabem muito bem que vitória das urnas, no segundo turno, não foi de Partido dos Trabalhadores. Mas uma conquista pessoal de Luiz Inácio Lula da Silva – com quem a maioria do eleitorado de baixa renda do País se identifica.

Lula surfa na onda de sua imagem construída desde o final da década de 70, quando “gênios” maquiavélicos, liderados por Golbery do Couto e Silva, agiram nos bastidores e movimentaram o sistema de poder para dar toda ajuda a criar um partido com ideologia de esquerda, formado por intelectuais e metalúrgicos, com o objetivo de neutralizar qualquer outra força de oposição ao regime que defendesse um projeto nacional soberano. O sistema criou o PT para anular o velho trabalhismo de Leonel de Moura Brizola – que tinha muitos defeitos políticos, mas que tinha um discurso patriótico.

É fato irônico da história que Delfim Netto cumpriu a missão de arrecadar dinheiro com empresários das Alemanhas Ocidental e Oriental para viabilizar a fundação do PT. Naquela época, a dita “dura”, em processo de abertura lenta, gradual e irrestrita, deu mole para o futuro do Brasil e viabilizou o nascimento do projeto petista. A turma do Golbery criou uma utopia política-ideológica, com discurso moralista, e muita sede de poder, que degenerou em desvios e corrupção. O PT, desgastado, hoje se mantém porque se constitui na força motriz que atende aos interesses dos controladores da economia mundial que mandam, de verdade, no Brasil.

O problema para Lula é que as forças econômicas européias, que hoje o apóiam, estão em guerra pela hegemonia mundial com os Estados Unidos da América. A Águia opera de acordo com seu sistema monolítico de poder que lhe garante a soberania. Mas justamente tal soberania dos EUA é ameaçada pelos seus rivais europeus, principalmente os ingleses, que controlam áreas estratégicas do mundo, como o petróleo, a geração de energia, as bolsa de valores e o comércio de commodities, além do poderoso sistema bancário internacional.

Atualmente, para se manter soberanos, os EUA dependem de uma saída honrosa do Iraque, de uma impossível vitória contra o inimigo difuso do terrorismo (alimentado por seus inimigos) e de uma retomada das relações econômicas e comerciais com a América Latina. O Plano Colômbia é decisivo para a retomada da soberania dos EUA, principalmente para os interesses de sua lucrativa indústria bélica. Com o governo petista no poder, os norte-americanos sabem que tal projeto fica inviável, no curto prazo. Os EUA gostariam de contar com um governo brasileiro que os apoiasse – o que não será nunca o caso de Lula, que, mesmo assim, vai tentar contar suas estorinhas para Bush.

Lula só irá sobreviver ao desgaste do segundo mandato, caso se seu governo não sofra uma intervenção dos Estados Unidos, em função do apoio a adversários dos EUA no continente, como Hugo Chávez, hoje um aliado dos controladores europeus da economia, com quem já firmou o Tratado dos Povos das Américas com Londres, em 17 de maio deste ano. Lula aposta na parceria com Fernando Henrique Cardoso, para garantir a governabilidade para o segundo mandato. Também conta com a compreensão de Aécio Neves, candidato já lançado pelos controladores europeus à Presidência da República, em 2010.

Mas a grande aposta de Lula é que a expressividade de sua vitória, com mais de 58 milhões de votos, convença os membros do Supremo Tribunal Federal e do Tribunal Superior Eleitoral a não lhe arranjarem problemas nos processos de corrupção no governo que fatalmente terão de ser julgados – quem sabe, um dia. Pelo andar da carruagem, Lula pode contar com os Homens da Capa Preta. Mas não deve ignorar que o Tio Sam, quando quer, tem um grande poder de convencimento em todos os poderes, e pude lhe puxar o tapete. Te cuida, Lula.

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