A denúncia do Ministério Público Federal contra integrantes da empresa MSI e do Sport Club Corinthians Paulista mostra, por meio de escutas telefônicas, que o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu solicitaria a intervenção de um senador junto ao Ministério da Agricultura em favor do frigorífico Minerva, relacionado à exportação de carne para a Rússia. O pedido teria chegado às mãos de Reinhold Stephanes, ministro da pasta. Os negócios interessariam ao magnata russo Boris Berezovsky.
As investigações apontam que haveria um intenso lobby dos investigados para obter, junto ao Ministério da Justiça, a concessão da condição de asilado político para Berezovsky, apontado como dono da MSI. A investigação conta com mais de 20 meses de escutas telefônicas. Procurados por telefone, os envolvidos não foram localizados.
O período das escutas se deu a partir de 30 de setembro de 2005. A íntegra do conteúdo das escutas está sob sigilo de Justiça e apenas alguns trechos foram liberados.
Berezovsky é acusado na Rússia de crimes financeiros, entre eles a apropriação ilícita de US$ 50 milhões da companhia aérea Aeroflot. Ele também responde por delitos contra a ordem econômica e financeira.
Asilo político
De acordo com a denúncia, acatada pelo juiz federal Fausto Martin de Sanctis, da 6ª Vara Criminal, o movimento seria encabeçado pelo presidente do Corinthians, Alberto Dualib e por Renato Duprat Filho, integrante da MSI, através de um intermediário chamado Breno Altman, ligado ao Ministério da Justiça.
O objetivo do asilo político a Berezovsky seria garantir uma vinda tranqüila dele ao Brasil, já que o russo estaria interessado em investir em empresas brasileiras.
Em um trecho das escutas telefônicas obtidas pela Justiça, Renato Duprat teria afirmado que em conversa no Ministério da Justiça, para resolver de vez o "problema", Boris deveria entrar com pedido de extensão da condição de exilado político. Tal ato, segundo a gravação, teria aprovação do comissariado da ONU. Berezovsky é asilado político na Inglaterra e pretendia assim estender o direito ao Brasil.
Em uma outra fala, Renato Duprat diz para o presidente do Corinthians, Alberto Duailib, que estaria sendo marcada uma reunião com um deputado estadual e com um ministro e que dessa forma Boris "nem precisaria vir ao País" para obter a documentação.
Outro trecho mostra que Breno Altman teria sido encaminhado a Roberto Duprat pelo Ministério da Justiça para o sinal verde da viagem de Boris Berezovsky ao Brasil.
Nas gravações telefônicas reveladas pela Justiça, há um trecho em que o presidente Alberto Dualib deixa recado para o chefe de gabinete da Presidência da República, Gilberto Carvalho, afirmando a necessidade de "antecipar" audiência entre Boris e Lula, encontro que não chegou a acontecer. Em dezembro de 2005 Lula recebeu a delegação corintiana, campeã brasileira naquele ano. Kia Joorabchian, membro da MSI, participou do encontro.
Segundo o MPF, Gilberto Carvalho afirmaria posteriormente a Breno Altman que precisaria ver bem o que é essa "extensão aí", ou seja, como seria dado o benefício a Berezovsky.
Berezovsky esteve no Brasil em maio de 2006, e, na época, afirmou à Justiça que manteve contato com "ministro do planejamento" (Paulo Bernardo), e diretores da Petrobras, Embraer e Embratur, além de executivos de empresas privadas como a Varig, visando, segundo palavras de Berezovsky, novos investimentos. Na ocasião, ele chegou a ser detido no País e interrogado por 10 horas.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário