21 outubro 2006

Acertando o passo

Míriam Leitão

O PT critica o PSDB pelo baixo crescimento do Brasil na década de 90; o PSDB hoje critica o PT pelo baixo crescimento do Brasil. Ambos estão certos: nos últimos onze anos, o desempenho do país está sempre abaixo do desenvolvimento mundial. O grande culpado, na opinião dos empresários, é o tamanho do Estado. “Enquanto o governo for deste tamanho, o país não vai crescer”, diz Beto Sicupira, um dos mais bem sucedidos empreendedores do país.


Luiza, do Magazine Luiza, acha que o Brasil não cresce porque não tem emprego para oferecer aos jovens, e ela tem um sinal claro dessa dificuldade: — Eu recebo mil currículos por semana de jovens procurando emprego.

Ano após ano, o Brasil está ficando para trás. Veja o gráfico: nos últimos 11 anos, incluindo a projeção para 2006, o Brasil perdeu para o mundo. E, no mundo, estão países com pouco dinamismo, como o Japão e os da Europa. Entre 1996 e 2005, o mundo cresceu aproximadamente 48%, enquanto o Brasil, só 24%.

O Brasil tem virtudes e vantagens mas, mesmo assim, tem tido um crescimento pífio. É preciso uma discussão mais séria sobre o tema. Talvez, depois que a eleição passar e o festival de auto-elogio que assola o governo federal terminar, seja possível.

Na quinta-feira fui, convidada por Rodrigo Azevedo, do Comunique-se (um site de jornalista que virou um sucesso empresarial e agora abrirá franquias para os outros países da região), a uma reunião de empreendedores.

— Você vê esta sala? Está cheia de empreendedores! — disse-me Beto Sicupira, que, com Jorge Paulo Lehman e outros, fez parte da criação de um forte grupo empresarial, hoje da AmBev.

Eram rostos pouco conhecidos, pequenos e médios empreendedores cujas empresas nasceram de uma boa idéia, muita coragem e tino para os negócios. Uma delas, a Beleza Natural, que nasceu na periferia do Rio, fundada por Heloísa Helena de Assis, a Zica, uma mulher negra que queria melhorar a aparência dos cabelos sem alterar sua natureza afro. Desenvolveu produtos testando em sua própria cabeça e na do seu irmão Rogério Assis.

— Nós tratamos o cabelo, mas não alisamos. Quando a cliente entra no nosso estabelecimento, é para elevar sua auto-estima. Esse é o nosso produto — disse Leila Velez, mulher de Rogério Assis.

A Beleza Natural hoje tem uma fábrica de cosméticos, a Cor Brasil, tem salões que atendem a 30 mil pessoas por mês e 500 empregados com os direitos trabalhistas respeitados.

A Endeavor é uma ONG em que grandes empresários e executivos oferecem apoio a pequenos empreendedores.

O jantar anual, realizado num elegante hotel de São Paulo, serve para arrecadar recursos e premiar os vitoriosos. Zica não foi porque estava doente, mas Leila e Rogério circulavam com desenvoltura entre grandes empresários, como Marcel Telles, e autoridades como Henrique Meirelles.

— Eu dou conselhos a quem está começando, mas eles enfrentam muita dificuldade.

É difícil conseguir empréstimo bancário, a burocracia diminuiu, mas ainda é grande; os impostos são altos demais — diz Luiza.

Entre as empresas de sucesso estava a Totvs, que nasceu como Microsiga e já comprou outras. Trabalha com software de gestão e tem crescido 20% ao ano.

Perguntei a José Rogério Luiz, o vice-presidente, como ele crescia se o Brasil não cresce: — O Brasil não cresce, mas o segmento de pequenas e médias empresas está crescendo muito, e é para eles que vendemos.

O jantar reunia vitoriosos recentes. Gente que cresceu num Brasil estagnado.

Mesmo assim, encontrou um ambiente melhor que há 12 anos para apostar num negócio próprio.

— Tem uma pessoa aqui hoje que contra tudo e todos defendeu a moeda: o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles.

Quero dizer aos mais jovens que, na época da inflação alta, era impossível abrir um negócio novo — disse Sicupira no palco.

Esse avanço o Brasil teve e, nisto, os dois partidos em disputa estão de parabéns: o PSDB, por ter estabilizado a economia vencendo a inflação que parecia invencível, e o PT por não ter posto em prática suas idéias que arruinariam o plano e ter deixado o Banco Central fazer seu trabalho.

Inflação baixa é precondição, mas o país continua ainda parado enquanto outros países nos superam. E não é por falta de força criativa, idéias novas e coragem dos empreendedores brasileiros.

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